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COLORADO HEAVY METAL!
ESPECIAL HC – A NOVA CARA DO HARDCORE NO
BRASIL
Seguindo com a
empreitada de retratar as novas caras da cena HC brasileira, trazemos a vocês
essa entrevista com a banda Surra, falamos com o baterista Victor, que mandou o
seu recado na humildade, mostrando do que é feito o underground!!! Confiram aí
logo menos o que o cara tem a dizer!!!
Evandro Sugahara
Antes de
tudo, muito obrigado pela disponibilidade em nos conceder esta entrevista,
gostaria de começar perguntando, como surgiu a banda e em que circunstâncias
foi escolhido o nome Surra? (Apesar de o som de vocês ter muito a ver com o
nome da banda).
Victor:
Que isso cara, obrigado você pela oportunidade dessa entrevista.
O
nome da banda veio de uma expressão que a gente usava bastante para classificar
um som 'foda', tipo 'essa música é uma surra!'. Foi meio que por aí, daí casou
legal com a nossa intenção de dar uma 'surra sonora' nos ouvidos da galera, e
ficou por isso mesmo.
Já
acompanho o trabalho de vocês desde os tempos de Like a Texas Murder e curto
muito o direcionamento musical e a evolução apresentadas no EP Bica na cara, conte-nos
como se dá o processo de composição do Surra, que tipo de inspirações e
influências vocês utilizam em suas músicas?
Victor:
Nosso esquema de composição varia muito. Às vezes alguém chega com a ideia de
uma letra, que acaba tomando forma de música, outras vezes alguém chega com uns
riffs que depois a gente coloca umas palavras por cima. Depende muito.
Ultimamente, a gente está dando mais valor para o 'conceito' das músicas. Tipo,
a gente quer expressar uma ideia x com isso, então vamos seguir nessa direção.
Em
questão de influências, o Surra é uma banda totalmente aberta para qualquer
ideia. Como a gente não tem um 'rótulo' definido, acabam entrando fragmentos de
ideias de todos os lados. Rola uma parte pesada porque a gente curte Paura pra
caralho, daí rolou um blast beat na 'Vida de Babaca' porque eu ouço Morbid
Angel para cacete, e por aí vai...
Devo
ressaltar que a produção do EP ficou ótima, muito pesada e com sujeira na
medida certa, a banda assina a produção juntamente com Ivan Pelliciotti, estar
envolvido diretamente com o processo de produção torna as coisas mais fáceis?
Victor:
Acho que o segredo é trampar com pessoas que você tem intimidade e não ser
orgulhoso demais. Aceitar críticas, ser esculachado por algo que não funciona,
etc, isso tudo faz parte do processo, então nunca se pode ficar puto da vida
com essas coisas.
No
'Bica na Cara' fizemos do nosso jeito, mas talvez em algum lançamento futuro
role de ter algum produtor de fora junto. Às vezes é importante escutar as
opiniões de alguém que veja tudo de fora para conseguir evoluir ainda mais.
A cena da
baixada santista é muito forte, muitas ótimas bandas atuam por lá, como vocês
analisam o underground de sua região e do país em geral, principalmente no que
tange a cena HC em geral?
Victor:
Acho que a cena HC underground é absurdamente produtiva. Você vê os caras na
Europa e nos EUA fazendo as coisas e pensa que aqui, mesmo com uma série de
dificuldades financeiras e de infraestrutura, ainda conseguimos replicar grande
parte das coisas. Todo mundo que é do rolê sabe o perrengue que é se
transportar de um lugar pra outro, ter equipamentos decentes para fazer um som,
etc. Mesmo com todas as dificuldades, existem milhares de bandas e uma cacetada
de gente disposta a se ajudar para fazer a coisa acontecer.
Considero
que todos que se dispõem a embarcar nessa doideira já estão enfiando um dedo do
meio na cara da sociedade, algo como: 'olha só, vocês disseram que é difícil,
impossível, mas estamos aqui fazendo um som, construindo amizades e conhecendo
lugares novos, fodam-se todos vocês'.
O EP Bica na cara é distribuído por três selos diferentes, fechar boas
parcerias hoje no underground é uma tarefa árdua, que dicas vocês dariam pra
quem quer lançar seu trabalho de forma eficiente mesmo com poucos recursos?
Victor:
A principal dica é acreditar no seu próprio trabalho e não desistir. No
underground sempre vai ter alguém disposto a te ajudar se você se mostrar
apaixonado pelo que faz. Sempre é difícil, até porque todos que estão nesse
meio são fudidos de grana, mas isso é o que menos importa, acha-se um jeito. O
importante é não ter pressa e fazer as coisas do jeito que se acha o mais
correto possível.
Como é
poder dividir o palco com grandes nomes como Hirax, Sepultura, Attomica, Cruel
Hand...etc e poder ver o som do Surra chegando a tantos ouvidos diferentes
Brasil afora?
Victor:
É sempre animal poder conhecer as pessoas por trás das grandes bandas que
admiramos, e é óbvio que isso ajuda bastante na divulgação do som, mas isso nem é o mais importante pra gente.
Claro que é legal tocar em eventos de grande porte, com uma aparelhagem bacana
e tudo mais, mas a gente fica feliz do mesmo jeito tocando em um lugar
extremamente underground para meia dúzia de malucos. A gente só tem a agradecer
os organizadores de shows por chamarem a gente pra esses rolês com bandas
gigantes, nós sempre apredemos muito.
A
gente sempre fica surpreso com o quanto o som está espalhado por aí. Eu acho
isso muito foda, saber que alguém que nem me conhece consegue se identificar
com uma letra que expõe alguns fragmentos do meu pensamento. Outro dia eu
recebi uma mensagem de um cara da Indonésia falando que curtiu nosso som. O
cara mandou um e-mail falando que mora em uma cidade que rolava uns atentados
terroristas e o caralho a quatro, e falou que curtiu demais o som. Porra, isso
fez o meu dia. Poder saber que eu pude estabelecer uma conexão com uma pessoa
que mora do outro lado do mundo e ainda compartilhar um pouco de nossas
realidades fudidas.
Acompanho a
Page da banda e vocês publicaram recentemente que estão trabalhando em músicas
para um novo disco do Surra, o que vocês podem adiantar sobre um novo trabalho
e o que podemos esperar dessas novas músicas? (Inclusive em apresentação com o
Sepultura no dia 17 de janeiro Santos-SP foram apresentados dois novos sons.)
Victor:
Estamos com algumas composições aí na manga para lançar outro EP e, talvez,
mais tarde tramparemos em um full.
As coisas novas estão acho que com ideias muito mais focadas. Nós amadurecemos
(ainda bem), e com isso as letras e questionamentos vão ficando melhores. Vamos
tirar muito sarro de nós mesmos nesse novo trampo e, claro, expôr todo tipo de
bosta que a gente dá de cara diariamente.
Em
termos instrumentais, a gente curte bastante coisa diferente e isso aparece
bastante no resultado final. Acho que a definição ideal do som seria tipo um
Ratos de Porão misturado com Claustrofobia. É a contestação e a maloqueirice do
hardcore/crossover misturados com a velocidade e a ignorância do metal.
2014, ano
de copa, obras superfaturadas, alienação futebolística e tudo mais, vocês acham
o que disso tudo? Teremos bem mais que “30kg de merda” no ventilador?
Victor:
Esse período é o mais 'me engana que eu gosto' da história do Brasil. O cara
que acreditou que a Copa iria trazer algum benefício ao povo brasileiro é um
puta de um alienado do caralho ou um fanfarrão no melhor estilo Luciano Huck.
Como sempre, tivemos a chance de trabalhar em um monte de questões importantes,
uma série de obras que poderiam beneficiar toda a população, mas é claro que
quem manda de verdade no Brasil não iria resistir a essa chance de ouro de
sugar o máximo possível de dinheiro e poder.
Só
você ver as sedes escolhidas para a Copa. Cuiabá cara. Porra, vai fazer um
estádio de 40.000 pessoas lá para quê? É tudo politicagem. No nosso país é cada
um por si e que se fodam os outros. Enquanto vai ter gente em hotel cinco
estrelas, rodeado dos melhores comes e bebes, outros vão estar no busão
apertado, se fodendo para chegar ao trabalho e aceitando tudo isso calado,
porque o povo é impotente. Tem que aceitar toda essa merda quietinho, senão já
leva-lhe uma borrachada na cara pra ficar esperto. Vai ser um ano como qualquer
outro. Os ricos vão ficar mais ricos e o resto vai continuar se fodendo.
Seguindo a
tradição do blog em plagiar a Roadie Crew, gostaria que listassem os melhores
álbuns na ótica do Surra, um top Five da banda.
Victor:
Putz cara, eu curto coisa para caralho, mas vou tentar listar os álbuns que
mais são relacionados com o som que a gente faz:
Slayer - Reign in Blood
Slayer é Slayer. Clássico
absoluto da música. Esse disco fez a base para tudo o que veio de desgraçado
depois.
Sepultura
- Arise
Esse
é o Sepultura em seu ápice. É assustador escutar esse disco. Tudo nele é
monstruoso, bem feito e absurdamente encaixado.
Pantera
- Vulgar Display of Power
Um
monte de gente torce o nariz para o Pantera, mas porra, não dá. Esse disco é
exatamente o que aparece na capa: um soco na cara.
Racionais
MC's - Nada Como Um Dia Após o Outro Dia
Melhor
álbum de rap nacional de todos os tempos. As letras dos caras são do caralho e
uma grande inspiração pra gente.
Raimundos
- Raimundos
Como
que uma banda podre dessas já foi a maior do Brasil? Porra, isso é sensacional.
As levadas pesadas e as métricas de vocal retardadas são até hoje uma puta
influência.
Novamente
obrigado pela atenção e reservo este espaço para as considerações finais de
vocês!
Victor:
Valeu você pelo espaço! Esperem aí que teremos muitas novidades em 2014!
Por Evandro Sugahara...
APOIEM AS BANDAS NACIONAIS...
COLORADO HEAVY METAL
Ótima retrospectiva, parabéns Vitão!!!
ResponderExcluirFeliz